24 de julho de 2010

História: leiam

Inocência perdida

Uma amiga, outro dia, reclamava que a filha, de 10 anos, estava assistindo muita TV "Esses clipes de rap", me dizia, "cheios de mulheres quase peladas, essa Avril Lavigne, que é a única skatista que fica com a chapinha intacta, não importa que manobra radical ela faça..." Minha amiga não tem nada de conservadora, é jovem, moderna etc. , mas o susto dela parecia reivindicar uma inocência perdida.
Parece absurdo advogar a inocência das meninas em pleno século 21 e, no en­tanto, completamente pertinente. Absurdo porque qualquer movimento em direção à inocência traz embutida a idéia de repressão, ou seja, só se é inocente, sobretudo no sentido sexual, quando se é ignorante. Ok, talvez o preço a pagar pela liberação sexual tenha sido a impossibilidade de se fazer silêncio sobre a sexualidade.
Ainda assim, pensando na pressão de gênero e de modelos sexuais que sofrem as mulheres, muitas vezes com vetores completamente opostos, faz sentido a queixa daquela mãe, que poderia ser generalizada: por que é que não se deixa as crianças, meninas sobretudo, um pouco em paz? Por que elas devem crescer tão rápido e já entrar de cabeça no mercado sexual e, antes mesmo de começar a puberdade, saber como tem que ser o cabelo, a roupa, a magreza, as marcas, as unhas, a maquiagem e todo esse monte de exigências que sustentam a indústria de moda e de cosméticos?
Uma das conseqüências mais visíveis da sexualização precoce é a gravidez adolescente, que já tem impacto sobre o perfil demográfico do Brasil segundo dados do IBGE, um quinto do total de brasileiras com filhos são menores de 20 anos e, sobretudo nas classes populares, na qual ela é mais comum, pode adiar ou enterrar para sempre as já poucas oportu­nidades de escolarização e capacitação pa­ra um trabalho melhor.
Mas, para além da precocidade, quan­do se examina que tipo de sexualização feminina é essa que se "ensina" na mídia, os cabelinhos da nuca se arrepiam. Em pri­meiro lugar, há que ser sempre desejável e não medir esforços (e dinheiro, claro) para se tornar ou se manter assim. Em vez de desejar, ser desejada pelo corpo e pelo uso eficiente das "armas" femininas de sedu­ção. Avril Lavigne que o diga: apesar de sua atitude aparentemente rebelde, não há nada fora do lugar, dos fios retíssimos do cabelão à unha manicurada.
Em segundo, obcecada por homens: não há nada mais importante, quente, satisfatório e capaz de trazer felicidade a uma mulher do que conseguir um homem, qualquer que seja, do príncipe encantado das meninas pré-púberes (e não pré-adolescentes, que isso não existe) aos solteiros cobiçados. Em todos os filmes, em to­dos os seriados, em todas as novelas, em todas ps revistas de celebridade, o objetivo número l das meninas, moças e mulheres é estar ao lado de um homem, não importa a que preço.
No mundo do consumo histérico, às me­ninas continua se impondo a educação do cor­po, dos sentidos e dos sentimentos para o olhar do outro, o homem, e não para si mesmas. Tem razão minha amiga, mãe de um garota, em se desesperar...
(Bia Abramo. Criativa, n? 199.)

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